Logo na chegada, ainda em abril,
fui bem recebido com um banquete de comida italiana e tive uma acolhida
calorosa. Ali, já era um início de muito aprendizados que viriam pela frente,
sobre as tradições e costumes locais. A presidente da Enars, Isabella Polloni, e
o coordenador do Intereurisland, Nicola Andrian, prepararam essa linda
recepção. Naqueles dias, a temperatura era muito baixa (menos de 10ºC),
principalmente, para quem havia saído de Juazeiro aos 36ºC.
Logo no dia seguinte, as portas
da UNIPD se abriram e ali teve início uma jornada de muito aprendizado,
compartilhada com as professoras Lisa Bugno e Emma Gasperi, com as discussões
da disciplina Pedagogia Intercultural, no curso de Ciências da Educação. O
componente curricular proporcionou uma imersão profunda nos conceitos que
permeiam a interculturalidade, discutindo sobre questões raciais, de
diversidade, religiosidade e interseccionalidade. Temas estes, que são também
muito discutidos no PPGESA, na UNEB em Juazeiro.
Ao mesmo tempo, os conceitos
vistos na universidade se concretizavam na prática, durante as ações de
acolhimento a pessoas em situação migratória, realizadas pela Cooperativa Porto
Alegre, primeiramente, na sede de Badia Polesine; depois, na sede de Rovigo.
Foram 3 meses intensos, em que pude acompanhar diversas atividades realizadas
pela instituição, desde os processos educativos, como a escola de língua
italiana conduzida pelas professora Angela Rosa e Arianna, aos encontros sobre
saúde, coletividade e participação nas atividades cotidianas, como limpar e
cozinhar.
Nas reuniões quinzenais, reunimo-nos para o grupo focal, a equipe do
intercâmbio e a coordenadora da Porto Alegre, Roberta Lorenzetto, para
planejarmos e alinharmos as atividades e avaliarmos as experiências já
realizadas.
Depois de dois meses de imersão
na cultura italiana, mas também nas culturas africanas e asiáticas (públicos
atendidos pela cooperativa), eu realizei o meu projeto de tirocínio que, por
minha formação inicial ser em Jornalismo e por ter notado a fotografia como um
elemento bastante presente na documentação de atividades da cooperativa, teve
como título “Lentes inclusivas: histórias pelo olhar de pessoas imigrantes”.
Assim, o projeto desenvolvido proporcionou aos participantes um conhecimento
abrangente, mesmo que de forma simples, sobre as técnicas de fotografia,
incentivando tanto a prática técnica quanto a expressão artística. Com uma
abordagem envolvendo teoria e prática, os participantes desenvolveram
habilidades que lhes permitam criar fotografias com qualidade e expressão
pessoal única. Primeiro, aconteceu uma oficina, com o conteúdo teórico sobre a
fotografia, as principais regras e um pequeno exercício de fotografia de
documentos (muito necessários para a cooperativa); depois, foi realizada uma atividade
prática em casa, com o tempo de uma semana. Por fim, nos dois últimos encontros
os participantes contaram uma história construída apenas por meio de
fotografias.
Outra atividade importante do
intercâmbio foi a realização do curso de Língua Portuguesa e Cultura
Brasileira, que ministrei na Associação Marcellino Vais. Do final de abril ao
final de junho, foram 8 aulas de muitas trocas, onde pude exercitar a prática
docente e contribuir com a preparação da equipe 2024 do projeto Intereurisland,
prestes a partir para o Brasil, como também, outras pessoas que frequentaram as
aulas.
O curso ministrado envolveu diversos elementos da língua portuguesa como
os principais verbos e as suas conjugações, saudações e cumprimentos, cores,
números; como também, elementos da cultura brasileira, em especial, a
nordestina. A associação foi espaço de muitas trocas sobre as línguas e as
culturas, a partir do curso e, também, de momentos de completa interação com
aulas de Forró, aulas de capoeira, exibição de filmes e a realização da grande
festa de São João. Foi um momento mágico, com toda a essência desta tradição
nordestina.
Para finalizar as atividades do
intercâmbio, aconteceu um processo formativo sobre os pré-alpes/montanhas na
região de Treviso, unindo as duas equipes de 2024 (Brasil-Itália) do
Intereurisland. Foi um momento de desafio e conhecimento pessoal, conhecimento
de novos amigos, de interação com música, jogos e muita conversa. Uma atividade
realizada em grupo foi a cereja do bolo, conseguindo abranger a temática da
interculturalidade que permeia todo o processo de intercâmbio. Durante a
atividade, criamos uma nova língua, uma nova religião e um modo de viver
diverso. Porém, precisávamos interagir com outro grupo que não sabia nada sobre
a nossa comunidade e, juntos, precisávamos construir uma ponte. Ao final, com a
ponte construída, discutimos sobre as nossas impressões e dificuldades no
processo.
Penso que essa atividade final
resume muito bem os desafios e os aprendizados presentes em todo o percurso
formativo do intercâmbio, que me deu uma variedade de perspectivas e
experiências, promovendo aprendizagem e respeito às diferenças. As amizades
formadas durante o intercâmbio prometem durar a vida toda, criando uma rede global,
como bem prevê o programa de intercâmbio.
A adaptação a uma nova cultura e
a um novo idioma trouxe desafios, mas também proporcionou um crescimento
pessoal significativo. Consegui desenvolver habilidade como: maior autonomia,
resiliência e resolução de problemas. A experiência de lidar com situações
desconhecidas e de se comunicar em outro idioma contribuiu para fortalecer a
confiança e a independência. Assim, o intercâmbio intercultural na Itália foi
uma experiência transformadora com aprendizado acadêmico e profissional, com passeios
turísticas e interações internacionais. Para o Brasil, retorno com uma bagagem
enriquecida de conhecimentos, habilidades e memórias inesquecíveis. Mais do que
nunca, preparado para enfrentar outros desafios.
Vinícius
Coutinho – PPGESA, DCH III,UNEB